Descrição de Enchente em 1895
Imaginem uma cidade inteiramente ilhada pelas revoltas águas de um rio enorme, que tem a força de demolir edifícios e derrubar árvores. Assim estava Palmares. Nos altos, uma multidão de homens e mulheres que se agasalham nos matagais molhados, nos campos frígidos; trapos por toda a parte, a esmo; três a quatro jangadas que promovem a salvação do povo. E as águas com força, fortemente a subir. Pela tarde, quando o sol ia se afastando dos montes, bem poderia um freugmático dizer: é uma cidade que se afoga.
Baixaram as águas morosamente. Depois de alguns dias de espera lembrei-me do expediente de Noé quando soltou a pombinha querendo certificar-se se havia terminado o cataclismo das águas. Mas faltava-me tudo. Eu não estava numa arca, não havia engaiolado um casal de todos os animais que povoam a terra. Ainda mais, eu não era Noé, eu não era o meu avô. Fui, pois, eu mesmo, buscar o ramo de oliveira. Andei por toda a cidade, percorrendo todas as ruas, ainda enlameada, admirei-me da ruína extraordinária que fizera o rio, andei por todos os becos e a única coisa que me agradou, que me serviu, deste empório comercial que se oculta nas sombras do interior de Estado, foi a visita à biblioteca do Club Literário, que poderia ser um foro perene de ilustração, se não fosse reparavelmente esquecida. A única coisa, sim. De que serve admirar árvores, palmeiras, campo e caniços? De que serve ver uma planície vasta, atapetada de flores? Do que serve o canto do canário, os arrulhos da rola, os gorjeios dos sabiás?
Pude afinal voltar; havia reaparecido a terra. Estava restabelecida a locomoção e feita minha viagem demorada, aborrecida. No entanto, apesar dos contratempos acometidos ainda experimento saudades da viagem que fiz a cidade, onde vive a propulsora força dos altos cometimentos.
Baixaram as águas morosamente. Depois de alguns dias de espera lembrei-me do expediente de Noé quando soltou a pombinha querendo certificar-se se havia terminado o cataclismo das águas. Mas faltava-me tudo. Eu não estava numa arca, não havia engaiolado um casal de todos os animais que povoam a terra. Ainda mais, eu não era Noé, eu não era o meu avô. Fui, pois, eu mesmo, buscar o ramo de oliveira. Andei por toda a cidade, percorrendo todas as ruas, ainda enlameada, admirei-me da ruína extraordinária que fizera o rio, andei por todos os becos e a única coisa que me agradou, que me serviu, deste empório comercial que se oculta nas sombras do interior de Estado, foi a visita à biblioteca do Club Literário, que poderia ser um foro perene de ilustração, se não fosse reparavelmente esquecida. A única coisa, sim. De que serve admirar árvores, palmeiras, campo e caniços? De que serve ver uma planície vasta, atapetada de flores? Do que serve o canto do canário, os arrulhos da rola, os gorjeios dos sabiás?
Pude afinal voltar; havia reaparecido a terra. Estava restabelecida a locomoção e feita minha viagem demorada, aborrecida. No entanto, apesar dos contratempos acometidos ainda experimento saudades da viagem que fiz a cidade, onde vive a propulsora força dos altos cometimentos.
Recife, 1895
Assinou o pseudônimo: Z. X.
Fonte: Novo Eco, fevereiro de 1895. Arquivado na Hemeroteca do Arquivo Público Estadual Prof. Jordão Emerenciano. O Novo Eco foi editado pelos poetas Fenelon Afonso Ferreira, Fernando Griz e Fábio Silva, nos anos de 1894/1895.
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